O rapaz acomodou-se melhor na cadeira, apoiando os braços sobre a bolsa, dando a entender que era todo ouvidos. A senhora pigarreou e começou.
- Faz algum tempo, aliás, faz muito tempo, eu era jovem e bonita, e tinha belas pernas. Eu o conheci numa gafieira, ele estava bêbado, e se não dançava mal, também não era bom dançarino. Sempre me irritei de dançar com homens que não sabiam conduzir direito, achei que não fosse gostar de dançar com ele, mas, por incrível que pareça, mesmo ele não sendo bom, o lance fluía e deslizávamos pelo salão. Sei que no final, dei o número de meu telefone para ele, coisa que eu nunca havia feito com homem nenhum. Ele me ligou algumas vezes e acabamos amigos. No início ele tentou se aproximar demais, mas sempre me respeitou e foi amigo. Aí acabamos amigos mesmo. Um dia estávamos conversando e ele me entregou um livro dele, os originais, para que eu lesse. Ele era músico, professor, fazia um monte de coisas ao mesmo tempo e eu achava graça no jeito bagunçado dele. Gostei do que ele tinha escrito e ele disse que aqueles originais eram meus, para que eu olhasse praquele calhamaço e me sentisse tentada a produzir um igual.
Uma outra senhorinha entrou na sala com uma bandeja, depôs sobre a mesa um bule, duas xícaras e um pratinho com biscoitos.
- Café? Sei que jornalistas são viciados em café e cigarros. Eu mesmo já trabalhei em um jornal por uns tempos, um jornal que já acabou, mas que chegou a ser conhecido aqui. Fui revisora lá, cheguei até a publicar umas crônicas. Isso me abriu algumas portas. Mas voltando a esse amigo... íamos nos correspondendo, nos falando, quando tínhamos brechas, nos encontrávamos e contávamos de nossos planos. Um dia mandei a ele o início de um texto, ele adorou, me disse que era por ali mesmo, que eu tinha de continuar. Resolvi que escrever seria um objetivo... alguns meses depois eu levei um rascunho para ele ler. O louco pegou meus originais e mandou para um amigo, que trabalhava numa editora e eu fui incluída numa coletânea de novas autoras. Depois de um tempo, começaram a chegar convites para novas coletâneas, e um dia, escrevi um livro inteiro. Lembro de ter terminado de parir o livro, foi essa a expressão que ele usou, ao lado dele, ganhando massagem nos ombros enquanto terminava de escrever. Engraçado como foi importante tê-lo ali. Nessa época algumas pessoas já me usavam como exemplo, por conta de minhas posições, você sabe, não é? Sempre fui muito franca quanto ao que eu sentia, quanto ao que eu gostava, mas essa minha amizade com ele era meio proibida, era um jogo nosso, costumávamos falar que éramos proibidos. Ele começou a fazer sucesso, eu também, cada um em sua área, muitos poderiam ver algo mais em nossa amizade - ela deu uma pausa, tomou um gole de café e continuou - até chegamos a pensar em nos deixarem ver juntos, fingindo mais intimidade até do que realmente tínhamos, só pra ver se alguém comentava, mas achamos melhor não, era mais divertido ficarmos escondidos, mais gostoso... - nova pausa e os olhos dela brilharam maliciosos, fitando o rapaz, que agora estava ligeiramente inclinado para frente, a xícara vazia entre as mãos - por acaso você já deve ter feito algo escondido, nem que seja pegar biscoitos escondidos de sua mãe... são mais gostosos, mesmo sabendo que se você pedir, ela os dará a você, não é?
- Faz algum tempo, aliás, faz muito tempo, eu era jovem e bonita, e tinha belas pernas. Eu o conheci numa gafieira, ele estava bêbado, e se não dançava mal, também não era bom dançarino. Sempre me irritei de dançar com homens que não sabiam conduzir direito, achei que não fosse gostar de dançar com ele, mas, por incrível que pareça, mesmo ele não sendo bom, o lance fluía e deslizávamos pelo salão. Sei que no final, dei o número de meu telefone para ele, coisa que eu nunca havia feito com homem nenhum. Ele me ligou algumas vezes e acabamos amigos. No início ele tentou se aproximar demais, mas sempre me respeitou e foi amigo. Aí acabamos amigos mesmo. Um dia estávamos conversando e ele me entregou um livro dele, os originais, para que eu lesse. Ele era músico, professor, fazia um monte de coisas ao mesmo tempo e eu achava graça no jeito bagunçado dele. Gostei do que ele tinha escrito e ele disse que aqueles originais eram meus, para que eu olhasse praquele calhamaço e me sentisse tentada a produzir um igual.
Uma outra senhorinha entrou na sala com uma bandeja, depôs sobre a mesa um bule, duas xícaras e um pratinho com biscoitos.
- Café? Sei que jornalistas são viciados em café e cigarros. Eu mesmo já trabalhei em um jornal por uns tempos, um jornal que já acabou, mas que chegou a ser conhecido aqui. Fui revisora lá, cheguei até a publicar umas crônicas. Isso me abriu algumas portas. Mas voltando a esse amigo... íamos nos correspondendo, nos falando, quando tínhamos brechas, nos encontrávamos e contávamos de nossos planos. Um dia mandei a ele o início de um texto, ele adorou, me disse que era por ali mesmo, que eu tinha de continuar. Resolvi que escrever seria um objetivo... alguns meses depois eu levei um rascunho para ele ler. O louco pegou meus originais e mandou para um amigo, que trabalhava numa editora e eu fui incluída numa coletânea de novas autoras. Depois de um tempo, começaram a chegar convites para novas coletâneas, e um dia, escrevi um livro inteiro. Lembro de ter terminado de parir o livro, foi essa a expressão que ele usou, ao lado dele, ganhando massagem nos ombros enquanto terminava de escrever. Engraçado como foi importante tê-lo ali. Nessa época algumas pessoas já me usavam como exemplo, por conta de minhas posições, você sabe, não é? Sempre fui muito franca quanto ao que eu sentia, quanto ao que eu gostava, mas essa minha amizade com ele era meio proibida, era um jogo nosso, costumávamos falar que éramos proibidos. Ele começou a fazer sucesso, eu também, cada um em sua área, muitos poderiam ver algo mais em nossa amizade - ela deu uma pausa, tomou um gole de café e continuou - até chegamos a pensar em nos deixarem ver juntos, fingindo mais intimidade até do que realmente tínhamos, só pra ver se alguém comentava, mas achamos melhor não, era mais divertido ficarmos escondidos, mais gostoso... - nova pausa e os olhos dela brilharam maliciosos, fitando o rapaz, que agora estava ligeiramente inclinado para frente, a xícara vazia entre as mãos - por acaso você já deve ter feito algo escondido, nem que seja pegar biscoitos escondidos de sua mãe... são mais gostosos, mesmo sabendo que se você pedir, ela os dará a você, não é?
Illustrator e Photoshop sobre imagem sxc.hu
Um comentário:
Eita... pior q comecei a ler... e quero ler o resto rsrs
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