5.1.09

A Fada e o besouro - Parte I

O repórter apertou a campainha e esperou a porta abrir. Mal tinha começado a reparar nos entalhes da porta pintada de branco quando uma senhora a abriu, cumprimentou-o com um aceno de cabeça e fez sinal para que ele entrasse. O rapaz seguiu a mulher por um corredor coalhado de fotos e recortes emoldurados de jornais e revistas. Chegaram a uma sala de pé-direito alto, com um piano a um canto. Cadeiras de espaldar alto estavam dispostas ao redor de uma mesa baixa. Em uma das extremidades, uma cadeira de balanço, de palhinha, onde a senhora se sentou, cruzando as mãos sobre o colo, enquanto indicava com a cabeça uma cadeira para o rapaz acomodar-se.
O jovem, normalmente muito falante, estava num silêncio respeitoso por aquela senhora de cabelos brancos e olhos instigantes. Estava tirando um gravador da bolsa quando ela falou pela primeira vez. A voz era suave e surpreendentemente jovem.
- Não precisa gravar não. Na minha idade já passei do tempo de contestar o que escrevem sobre mim. Não precisa nem anotar, escreva apenas o que achar que vale a pena. Ou o que sua cabeça lembrar, ou como ela lembrar, tanto faz.
Ele voltou o gravador para a bolsa, fechou-a e cruzou as pernas, os olhos fixos nos da mulher à sua frente.
- Então... acho que você quer saber como é que eu me sinto como uma escritora que teve um de seus obscuros livros relacionados como relevante por uma revista inglesa sobre literatura, não é, meu amiguinho? Pois isso não é o mais importante, sabia... um telefonema que recebi ontem foi mais importante que essa escolha. Sabe porque? Porque o telefonema veio de uma pessoa que me incentivou a escrever. A escrever esse livro, para ser mais exata. Quer saber dessa história? Ou acha isso apenas devaneios de uma velha senhora?

Nenhum comentário: