29.4.09

A Festa - Parte X

Gabriel sentara-se sozinho num canto da sala, fingindo folhear um livro antigo enquanto os amigos contavam piadas do outro lado do cômodo. Alguma coisa estava muito estranha. Ele sabia que Clara era impressionável, cansara de implicar com a amiga, mas ele nunca ficara tão nervosa. E Edu? Não gostava do namorado de Clara, mas sabia que ele não perdia uma festa por nada, cansara de ouvir a amiga reclamando que ele já a deixara em casa e saíra em seguida pra uma festa que não queria que ele fosse. Ainda mais com a namorada indo passar uns meses fora, como é que ele perderia uma dessas? Ana Também não estava normal... aliás... quando é que ele estava normal? Nunca conseguira prever um passo sequer dela. Muito louca, muito impulsiva. Ela sabia o quanto ele não gostava que Melissa fumasse, e na primeira oportunidade, dera um jeito de oferecfer maconha para a garota. Ainda por cima ficara na sala com ele, provocando-o, ela que sempre o mantivera à distância... talvez por ele ser o único da turma que a enfrentava. Alguma coisa estava fora da ordem, ele ainda não sabia o que era... mas iria descobrir.
Ana e Clara voltaram a sala, a primeira continuava eufórica, sorridente, já Clara estava um pouco amuada, notou uma marca vermelha no pulso da menina, algo forte parecia ter acontecido na cozinha, Será que elas tinham um caso e Edu tinha descoberto e terminado tudo? Isso explicaria a ausência dele. Engraçado... de Ana ele esperaria algo assim, mas não de Clara. Imaginou como seriam as duas juntas e não pôde reprimir uma ereção, colocou o livro sobre o colo para que ninguém reparasse e pediu mais uma cerveja a Ana, só para vê-la rebolando em sua direção.

20.4.09

A Festa - Parte IX



Ana olhou para os outros convidados enquanto Clara ia pra cozinha.
- Tá nervosa com a viagem, a boba. Vou lá falar com ela... sabe como é a Clarinha, muito impressionável. Pra vocês verem, ela acha que a carne que come nasce já embalada numa árvore, que ninguém mata os bichinhos.
Encontrou a amiga encostada na parede, o rosto escondido no braço. Não se segurou e puxou a moça com violência pelo braço.
- Ficou louca, é? - os olhos de Ana estavam injetados de sangue, e Clara se encolheu de encontro à parede, a amiga crescendo para cima dela, os dentes cerrados, a voz baixa, intimidadora - você vai ficar quietinha, ouviu? Fica quietinha, sabe que sou eu que mando aqui, não sabe? - ela assentiu, os olhos marejados, fixos nos de Ana - se você estragar nosso plano, já jabe o que vai te acontecer, né, piranha? Agora vamos voltar lá para a sala, cê vai segurar tua onda, vou falar o que eu quiser e você vai achar tudo lindo e maravilhoso, entendeu?
Clara assentiu num fiapo de voz. Então Ana se aproximou um pouco mais, uma das mãos ainda segurando o pulso da amiga, enquanto a outra acariciava um dos seios dela. A boca muito próxima do rosto da outra, a língua tocando a pele dela, vagarosamente traçando uma linha do pescoço ao lóbulo da orelha, quando enfim falou:
- Assim que eu gosto, delícia, assim que eu gosto. Engole o choro e volta pra sala - deu um beijo na ponta da orelha da amiga e saiu rebolando, com uma sacola de cervejas e um pacote de biscoitos nas mãos.

6.4.09

A Festa - Parte VIII

Nervosa, Clara levantou-se e entrou entre Gabriel e Ana, fingindo normalidade, enquanto pegava um sanduíche na mesa.
- Como vocês estão mórbidos, só falando de sangue, de morte, de coisa ruim... Gente, vamos viajar amanhã!
- Também acho melhor mudar de assunto... - Gabriel deu mais um gole na cerveja, enquanto não conseguia disfarçar que estava olhando para a bunda de Ana, que se afastava, rumo à cozinha, quando a moça virou no corredor, ele voltou a fitar Clara - em mudança de assunto, cadê o Edu? Era pra ele já ter chegado...
- Merda! - Ele nem bem tinha terminado a frase e ela deixara cair o sanduiche no chão.- Olha que merda que eu fiz! Ana!!! Traz as toalhas de papel, que eu derrubei manteiga no chão!
Gabriel abaixou-se e começou a limpar a sujeira enquanto Clara sentava-se de novo no sofá.
Melissa abraçou a amiga - Boba... ficou nervosa só porque derrubou o sanduíche no chão? Deixa disso, o Gabriel já está limpando, nem vai manchar o piso.
Zeca levantara-se para ajudar o amigo a limpar o chão. Levantando um pouco a toalha, para tirar um respingo de molho, viu a base do móvel que servia de mesa - Poxa, legal esse móvel, o que é?
- Um baú, coloquei ele no meio da sala porque é forte, imponente, grande. Essas coisas que impressionam. Esse baú ficava na casa de meus avós, sabiam que me escondi várias vezes vezes aí dentro? Uma vez meus pais ficaram loucos, acharam que eu tinha morrido, entrei aí e acabei dormindo no meio de uns livros que estavam aí dentro, só me acharam cinco ou seis horas depois. Acho que daria pra esconder um defunto aí dentro.
- Que defunto o quê?! Tá maluca? Clara levantou-se de um pulo e segurou a amiga pelo braço, visivelmente transtornada. - Voltando nesse assunto de defunto, de sangue? Já deu, né? Vou lá na cozinha pegar mais bebida.