15.1.09

A Fada e o besouro - Parte IV



O rapaz sorriu - Eu sei... tenho muito desses tipos de problema... mas... voltando... isso faz tempo... como foi a repercussão do livro? Não na imprensa ou no público, isso eu posso consultar em arquivos... quero saber entre vocês dois... que eu me lembre a senhora não estava sozinha na época.
- Realmente... não estava, e a pessoa com quem eu estava o via apenas como um amigo meu, o que, realmente era na época. Quando ele um dia apareceu em meu apartamento com uma garrafa de vinho, um buquê de rosas e um exemplar do meu livro ela tomou um susto, mas bebeu tanto que dormiu no sofá e nos deixou sozinhos, comemorando meu feito...
- Nossa... um triângulo! Uma revelação e tanto!
- Sim, isso eu te peço para não incluir, sugira, apenas... até porque essas figuras geométricas aparecem sempre em nossas vídas... temos vidas cíclicas, círculos viciosos e virtuosos, triângulos amorosos, somos quadrados ou obtusos, dependendo de quem nos olha... quem nunca se envolveu num triângulo? Quem nunca andou em círculos na vida? Alguns de nós têm vidas paralelas, que não se encontram nem no infinito. Vivemos buscando pontos de fuga pra nossas vidinhas sem perspectivas - ela deu uma gargalhada e completou - menino... havia séculos que eu não lembrava tanto de uma certa professora de matemática... ela acabou entrando na minha vida também... e foi uma loucura... porque eles começaram um caso e se encontravam em minha casa, por sorte durou pouco, antes que eu começasse a sentir ciúmes - ela notou uma das sombrancelhas dele se erguendo, e sorrindo, continuou - sim, eu também sou capaz de sentir ciúmes, também sou egoísta... todos somos... alguns só disfarçam melhor. Eu me canso das pessoas... talvez nunca tenha me cansado dele porque ele nunca foi muito próximo, nunca se deixou aproximar muito, ele sempre pairou em minha vida, mas como não ocupava um espaço definido, eu nunca me cansei dele... era uma espécie de bóia, sabe... que estava sempre por perto, mas nunca me estorvava de tê-la de ficar carregando comigo. Acho que foi isso sim... mas dessa vez eu quase senti ciúmes... como eu podia dividir aquela companhia com outra? No começo achei o máximo ser alcoviteira, mas depois a sementinha do ciúme começou a crescer no meu peito... Ainda mais tão próxima de mim... não nego que olhei pelo buraco da fechadura uma ou duas vezes, querendo saber o que eles conversavam e o que faziam... contei isso a ele depois, ele morreu de rir... disse que sabia que eu fazia isso... mas não sabia nada... falou apenas para mexer comigo. Mas acabou, eles se cansaram um do outro e voltamos à nossa amizade só nossa. Mas a experiência foi boa, sabe? Me rendeu frutos.
- Seu segundo livro?
- Não, o terceiro, uma novela. "A hora em que seremos ninguém". O caso deles dois me acendeu uma centelha que me fez escrever, usei as características físicas dela na personagem principal, e o temperamento dele nela. Ele deu muita risada quando leu os originais e perguntou se era uma vingancinha o que fiz com a personagem no final... pois, se fosse, ele ia ficar com medo de mim, um dia. Ele ainda disse que ligaria pra ela só pra avisá-la que eu tinha ficado com raivinha. Mas sei que ele nunca faria isso, ele gostava mesmo era de implicar comigo.
- Só implicar?
- Claro que não... mas eu também implicava muito com ele, o provocava... e isso o estimulava, sempre estimulou. Ele gosta de ser tensionado...

Illustrator e Photoshop, sobre fotos sxc.hu

Um comentário:

Anônimo disse...

Onde será que isso vai dar? Está interessante