16.4.12

EntreAspas #1


Aí que eu resolvi reunir alguns dos meus contos e montá-los em formato revista, como se fossem ser publicados. Peguei textos de diversas épocas, uns mais antigos, alguns desse ano. Tentei diagramá-los de um jeito bacana. Nesse, só consegui colocar uma ilustração minha na última página, mais que isso só pro próximo, mas vamos com calma, né?

Eu gostei... mas como sou o pai da criança, minha opinião é suspeita... espero que vocês gostem também. Críticas, comentários, sugestões, puxões de orelha e tomatadas são bem vindos!

Para ver como ficou, só clicar aqui! O PDF tá levinho, baixa rapidinho. Leiam e comentem!

15.4.12

(des)Acertando ponteiros

Entrou na loja. O shopping estava às moscas. Segunda-feira, vinte minutos antes do fechamento das lojas. Dia 28. Ninguém nos corredores. A vendedora, uma morena de cabelos amarrados num coque e sombra esverdeada nos olhos estava debruçada no balcão, alheia à tudo, brincando no celular.

Ele pigarreou, chamando a atenção da moça, que levou um susto e empertigou-se com o melhor sorriso amarelo da praça - Boa noite! Em que posso ajudá-lo?

Ele se aproximou, sorrindo também e tirando um relógio do bolso - Eu comprei esse relógio com vocês um tempo atrás. Agora a bateria acabou, vocês têm dela pra trocar?

A atendente com um "Regina" escrito no crachá pegou o relógio, analisando o modelo - Nossa! Tem tempo, hein? Não vejo um desses aqui há anos! Quando você o comprou?

- Tem uns quatro anos, nunca me deu problema. Hoje eu cheguei atrasado no trabalho porque ele parou e eu não notei. Levando em conta o tempo, nem posso brigar com ele, não acha?

Ela olhou para ele e sorriu, abaixando-se em seguida para procurar a bateria sob o balcão. Quando ela levantou-se, com a caixa de baterias e ferramentas na mão ele notou que, na mão direita dela, havia uma marca mais clara no dedo anular. Ficou observando-a trabalhar. Em instantes ela havia aberto o relógio e trocado a bateria. Quando ela foi acertar as horas no relógio recém-consertado, ele resolveu arriscar.

- Ainda dói?

Sem entender nada, ela olhou para ele, que, delicadamente, levou o dedo até a mão dele, tocando suavemente a marca - Aliança? - Ela assentiu com a cabeça, sem falar nada, mas ele reparou que os olhos dela tremeram, como se temessem se molhar - Eu te entendo... - colocou as duas mãos sobre o balcão, retirando um largo anel de prata do anular esquerdo, deixando à mostra uma marca bem mais fina e clara na pele do dedo. Sem levantar os olhos, completou - Três semanas ontem. E não... por mais que pareça, isso não é uma cantada, tá? Só me deu vontade de desabafar...

Ela tocou-lhe a mão, a pele dela era morna e macia. Sem que os olhos dos dois se cruzassem, enfim ela respondeu.

- Quatro dias, e dói como se nunca mais fosse sarar...