Entrou na loja. O shopping estava às moscas. Segunda-feira, vinte  minutos antes do fechamento das lojas. Dia 28. Ninguém nos corredores. A  vendedora, uma morena de cabelos amarrados num coque e sombra  esverdeada nos olhos estava debruçada no balcão, alheia à tudo,  brincando no celular.
Ele pigarreou, chamando a atenção da moça, que levou um susto e  empertigou-se com o melhor sorriso amarelo da praça - Boa noite! Em que  posso ajudá-lo?
Ele se aproximou, sorrindo também e tirando um  relógio do bolso - Eu comprei esse relógio com vocês um tempo atrás.  Agora a bateria acabou, vocês têm dela pra trocar?
A atendente com um "Regina" escrito no crachá pegou o relógio,  analisando o modelo - Nossa! Tem tempo, hein? Não vejo um desses aqui há  anos! Quando você o comprou?
- Tem uns quatro anos, nunca me deu  problema. Hoje eu cheguei atrasado no trabalho porque ele parou e eu  não notei. Levando em conta o tempo, nem posso brigar com ele, não acha?
Ela olhou para ele e sorriu, abaixando-se em seguida para procurar a  bateria sob o balcão. Quando ela levantou-se, com a caixa de baterias e  ferramentas na mão ele notou que, na mão direita dela, havia uma marca  mais clara no dedo anular. Ficou observando-a trabalhar. Em instantes  ela havia aberto o relógio e trocado a bateria. Quando ela foi acertar  as horas no relógio recém-consertado, ele resolveu arriscar.
- Ainda dói?
Sem entender nada, ela olhou para ele, que,  delicadamente, levou o dedo até a mão dele, tocando suavemente a marca -  Aliança? - Ela assentiu com a cabeça, sem falar nada, mas ele reparou  que os olhos dela tremeram, como se temessem se molhar - Eu te  entendo... - colocou as duas mãos sobre o balcão, retirando um largo  anel de prata do anular esquerdo, deixando à mostra uma marca bem mais  fina e clara na pele do dedo. Sem levantar os olhos, completou - Três  semanas ontem. E não... por mais que pareça, isso não é uma cantada, tá?  Só me deu vontade de desabafar...
Ela tocou-lhe a mão, a pele dela era morna e macia. Sem que os olhos dos dois se cruzassem, enfim ela respondeu.
- Quatro dias, e dói como se nunca mais fosse sarar...
Um comentário:
Esses "avulsos" me deixam com muuuiita vontade de saber algo mais... talvez mais um parágrafo ou mais algumas linhas... aiai...
abraços
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