8.11.10

No bar

Ela parou na calçada do outro lado da rua, em frente ao bar. O mar às costas, o sol já ameaçando se pôr. Vinte e poucos anos. Tênis, jeans e camisa de uniforme pólo branca, a marca da empresa sobre o seio esquerdo. Era miúda. Mignon, mas com curvas estrategicamente bem colocadas. A pele clara, os cabelos castanho escuros presos por uma caneta num coque no alto da cabeça. Usava maquiagem leve, a sombra dos olhos era verde, combinando com o logo na blusa. A boca era suficentemente carnuda e vermelha pra dispensar o uso do batom.

Ela atravessou a rua saltitante e entrou no bar. Foi até uma mesa onde um homem sozinho tomava um chope e cumprimentou-o com um beijo nos lábios, depois de soltar os cabelos balançando a cabeça como só as mulheres que se sabem bonitas conseguem fazer. Ele retribuiu mecanicamente ao carinho e ela sentou-se na cadeira à frente dele, os olhos inquisidores fixos no acompanhante. Ele pronunciou alguma coisa que só ela ouviu. Algo suficientemente duro para que os olhos dela se enchessem de lágrimas, quase transbordando e borrando a maquiagem. Ela levou a mão na boca, tentando balbuciar algo, mas a voz não saía.

Finalmente ela se libertou de seu torpor e a mão atravessou a mesa, estalando no rosto do homem. Os fregueses do bar voltaram-se para o casal, na curiosidade que toda cena de ciúme provoca. Pessoas cochichavam entre si enquanto ela descompunha o ex-amante, que, impassível, continuava sentado, olhos baixos, bebericando de leve o chope que já ia pela metade.

Enfim ela se cansou, pegou a bolsa que estava no espaldar da cadeira e saiu do bar, rumo à orla. Deixei uma nota de vinte sob o copo, o suficiente para cobrir os chopes e a porção de salaminho quase intacta. Levantei-me e fiz um sinal para o garçom, que retribuiu com um sorriso cúmplice, e saí o mais naturalmente possível do bar. Com um pouco de sorte eu a alcançaria antes da próxima quadra e arriscaria proporcionar-lhe o consolo que toda mulher abandonada merece.

Nenhum comentário: