14.9.09

A Festa - Parte XXII - Final


- Você que atirou nela, Ana, você! Você e toda essa sua loucura! Me entrega a arma, vamos chamar uma ambulância, tem um corpo de bombeiros aqui perto, daqui a pouco eles estão aqui, ela tá viva, ouviu o Zeca? Se nada acontecer com ela a gente diz que foi só um acidente e tudo contiuna bem, me entrega a arma aqui, vai?
Ana recuava até a porta. Ao lado da porta estava pendurada uma mochila, ela pegou-a e pendurou-a em um dos ombros, ainda com a arma apontada para Gabriel. Com a mão livre ela destrancou a porta - Não, Bel, eu não vou entregar a arma porra nenhuma, tá sabendo, eu vou embora, aí sim, vocês ligam e pedem ajuda, tomara que dê tempo. E é mentira que vocês vão dizer que foi um acidente, vão é dizer que atirei nela de propósito... eu vou fugir, ninguém vai me achar, tá me ouvindo, ninguém! E isso aqui é pra você, seu filho da puta! - Ela disparou novamente, agora conta Gabriel, que caiu para trás com a força do impacto, enquanto ela fugia, trancando a porta por fora.
Vendo os dois caídos, Zeca ligou para a polícia e para o corpo de bombeiros, a voz trêmula pedindo socorro. Nem bem havia terminado a ligação e Gabriel começava a levantar-se, uma das mãos segurando o ombro encharcado de sangue...
- Caramba... ahhh.... isso dói, parece que meu ombro tá pegando fogo - ele arrastou-se até Clara - Clara, por favor, té me ouvindo? Onde tá o Edu, por favor. A moça entreabriu os olhos, deu um sorriso débil e apontou para o baú, onde estavam apoiadas as comidas e bebidas. Gabriel levantou-se e com uma mão só puxou a toalha derrubando tudo no chão. Mel e Dani acudiram Clara enquanto Zeca e Bruno correram para ajudá-lo a levantar a tampa do móvel. Dentro, inconsciente, amarrado e com um pedaço de silvertape cobrindo a boca, Edu. Um enorme hematoma na têmpora direita justificava o sono profundo em que o rapaz se encontrava. A campainha tocou com a chegada do corpo de bombeiros e Gabriel aumentou o time dos desacordados, desabando no chão.

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Gabriel abriu os olhos, o teto branco era estranho a ele. Ainda com a vista turva viu o pai e Melissa de um lado da cama. Do outro, Zeca e Dani.
- O que aconteceu? Fiquei quanto tempo dormindo? Como estão todos? E a Clara?
- Cê dormiu quase um dia e meio - A voz de Zeca parecia vir de muito longe - mas agora tá tudo bem, a bala só pegou de raspão no teu ombro, a merda é que tu perdeu muito sangue. Tá todo mundo bem, meio assustado ainda. Todo mundo teve de ir na delegacia prestar depoimento... por sorte eu consegui jogar os flagrante tudo na privada antes dos caras chegarem...
Melissa interrompeu o rapaz - Péra, Zeca, não é isso que ele quer saber. Bel, tá tudo entrando nos eixos. Clarinha está bem, perdeu muito sangue também, os médicos disseram que ela também teve um colapso nervoso, mas que tá se recuperando bem e que vai ficar tudo beleza. O Edu está bem também. Depois a Clara contou que elas iriam deixar um bilhete pra alguém ir lá tirar ele do baú. A pancada que a Ana deu nele fez uma, uma... como é que é, seu Valdir?
- Concussão, minha filha, concussão...
- Isso, uma concussão, mas que não foi nada sério. Ele resolveu dar queixa só da Ana, ele viu que a Clara era só um joguete nas mãos daquela maluca.
A voz de Gabriel saiu tremida - E ela?
- Ahhh, Bel, ninguém sabe dela. Ela sumiu no mundo. Quando a polícia conseguiu correr atrás dela, ela já tava longe. O Zeca recebeu um telefonema dela, dizendo que a gente nunca mais a veria. A polícia conseguiu rastrear a ligação, era numa rodoviária do interior, quando ligaram pra polícia de lá, nem acharam ela, uma testemunha disse que a viu embarcando num ônibus para Belo Horizonte, mas ninguém sabe onde ela pode ter saltado. A Clara comentou que ela tinha raspado as contas dela antes de viajar. Acho que ela sumiu no mundo de vez... pelo menos a gente pode ficar tranqüilo, acho que ela não voltar nunca mais.
- É... assim espero... gente... é tão bom ver vocês, mas... será que eu posso descansar mais um pouco, ainda tou com muito sono...
Valdir acariciou os cabelos do filho - Sim, Bel... qualquer coisa, eu tou ali na poltrona... só me chamar... o pessoal vai dar um pulo em casa pra descansar um pouco... mas eu vou ficar aqui.
- Obrigado, pai... obrigado pessoal... amanhã continuamos.... E fechou os olhos para sonhar acordado... não sabia porque, mas sentia uma vontade imensa de jogar tudo para o alto e viajar para a Bolívia...

Um comentário:

marcelo alves disse...

Hummm, vem ai a segunda parte desse filme. Belo e intrigante desfecho.