
- Aninha... posso ficar com a outra metade desse sanduíche? Acho que não vai se importar de dividi-lo comigo, não é? - Ela estendeu o pão recheado para ele, sem palavra, os olhos duros, ainda sem saber o que o rapaz estava tramando - que bom... hummm, azeitonas... adoro, sabia? Que bom que você dividiu comigo, acho que era o último... bom que sabe dividir as coisas... eu gosto disso... também sou bom em dividir... não ligo de repartir o que como, não é, Mel? Ele estava andando em círculos pela sala, magnetizando o olhar dos colegas, o sanduíche numa mão, a lata de cerveja na outra, olhando para o alto, como se divagasse - Eu não me importo de dividir... não sou apegado... gosto de gente que não se apega... você não parece ser muito apegada, Aninha, tou certo? Acho você capaz de dividir... desde que seja algo de sua iniciativa, estou certo?
- Onde cê tá querendo chegar, Bel?
- Lugar nenhum, lugar nenhum... só estou curioso de como reagiria se alguém viesse te pedir para dividir algo que você julga de tua inteira propriedade... mesmo que não seja?
- Mas hein? Como assim? Não tou entendendo nada... Tá ficando maluco?
- Acho que sim, estou divagando... mas, sabe como é, né? Pergunta pra Mel, eu fico assim, meio filosófico, sem falar coisa com coisa quando eu bebo... eu bebo e sou capaz de cada coisa... acho que até de brigar ou machucar alguém... - deixou a frase soando só pra confirmar, Clara se voltou num pulo, cravando nele os olhos marejados de lágrimas. Ficou com pena da menina e completou - nem que seja falando coisas sem pensar... isso machuca também, né?
Ana retomou a postura de dona da casa e veio até ele - Você se magoa com palavras?
- Normalmente não... ás vezes nem pancadas me machucam... principalmente se a pessoa souber bater... aí, nem tem problema... já fiz judô, suporto bem a dor...
- Interessante isso... vai que eu gosto de bater...
Ana aproveitava o torpor de Mel para cantar o namorado dela descaradamente, era isso que Gabriel queria, autoconfiança era inebriante, capaz de derrubar o mais forte... isso seria a ruína da menina. Agora ele iria ficar sabendo o que tinha acontecido. Soltou a frase num sussurro, o mais próximo que pôde da menina:
- E o quanto você seria capaz de bater pra se satisfazer?
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